A foto de abertura dessa postagem é do chão de paralelepípedo do mercado de açaí que fica cheio das sementes da fruta! Mesmo no fim da tarde, sem nenhum açaí por perto, o chão não deixa dúvidas de que é lá que ele fica.
O açaí é um pequeno fruto amazônico que ganhou o mundo! Quando estive no Pará tive a oportunidade de acompanhar o açaí desde seu pé, passando pelo seu comércio até a tigela, ou seja, a venda de sua polpa (também chamada de vinho) no mercado, por isso o título da postagem onde mostro um pouco do que aprendi! A postagem ficou um pouco grande, mas preferi não dividir... Acho que vocês vão gostar!
O açaí é o fruto de uma palmeira nativa da Amazônia que cresce de forma espontânea no Norte do Brasil, em várzeas e áreas de muita umidade.
Hoje em dia existem plantações de açaí em várias áreas do Norte mas ele era coletado somente de forma extrativista até 20 anos atrás.
Mudou o manejo, mas não a forma de coleta, que ainda é feita da mesma maneira desde o século passado! Seu Ladir, esse senhor de 72 anos das fotos abaixo, nos mostrou como sobe no açaizeiro desde que tinha 7 anos de idade para coletar os frutos.

As palmeiras podem chegar a 30 metros de altura, uma subida e tanto!
Primeiro se faz a peconha: as folhas do próprio açaizeiro são enroladas para formar uma "corda" que é então amarrada aos pés do coletor para facilitar a subida na palmeira. Essa mesma técnica é usada desde o século passado por coletores de diversos frutos no norte do Brasil.

Seu Ladir no topo do açaizeiro (e de seus 72 anos!) assustou a todos passando de uma árvore a outra com uma agilidade incrível e desceu rapidamente! Os coletores passam de um pé ao outro e podem colher até 5 galhos em cada subida.
Durante a safra famílias inteiras colhem o fruto, principalmente as crianças que são mais leves e ágeis.

Depois, atendendo aos nossos pedidos, Sr.Ladir subiu em outra palmeira e colheu um galho de açaí para nossas fotos! Dessa vez desceu devagar dizendo que com o galho não podia descer correndo!

O galho ainda estava com os frutos parcialmente verdes. Viajamos em março, a melhor época para ver (e comer) os frutos é no verão Amazônico (de agosto a dezembro).
Da mesmo palmeira se tira o palmito, é muito saboroso mas como causa a derrubada da planta não é muito comum.

O galho do açaí bem de perto. Lindos frutos! Eles são colhidos, colocados em cestas feitas com a palha da própria palmeira e levados de barco até a feira do açaí nos arredores do mercado ver-o-peso em Belém.

Fomos à feira antes as seis da manhã, os barcos começam a chegar de madrugada e o pátio já estava cheio de gente e de açaí quando chegamos.
Pelo mercado de Belém passa a maior parte do açaí brasileiro. Barcos chegam de todos os lugares e até de estados vizinhos, alguns viajando por muita horas. No caso de viagens longas o açaí é transportado em gelo para não deteriorar.

O dia começa a clarear, uma linda paisagem!! Na foto, a torre do mercado de peixes do ver-o-peso.

Os cestos de palha tem medida padrão e neles cabem aproximadamente 15 quilos do fruto. São chamados de paneiros e são descarregados na cabeça como na foto acima, alguns homens carregam 4 ou 5 paneiros de cada vez.

Fomos na entressafra, cada paneiro de açaí estava custando R$ 35,00. Na época do verão o valor pode descer para R$ 8,00.

Os paneiros já vazios dão cor ao lugar.
Os frutos vendidos são passados para sacos de juta ou plástico e transportados para empresas processadoras ou diretamente para as lanchonetes da região. O estado do Pará consome mais da metade do açaí que produz.

Para nós o pátio estava lotado, mas durante a safra o movimento mais que triplica!

O dia já clareando e a linda vista da feira.

Os compradores provam o açaí in natura. É claro que nós também provamos mas para mim ele não tem gosto de nada e não pude sentir a diferença entre um e outro! Preciso ir mais vezes à Belém!
Para os conhecedores existem várias diferenças além do tamanho do fruto - maturidade, quantidade de polpa, sabor mais ou menos pronunciado, etc. O local onde foi coletado também interfere no sabor e o açaí da Ilha das Onças e Ilha do Combu é bem conceituado e geralmente mais caro que os outros.

É um fruto lindo, parecem bolinhas de gude, pequenos e duros... Dá vontade de brincar! Os vendedores não reclamam se colocamos as mãos, já que os compradores também fazem isso para avaliar o produto.

Fomos muito bem tratados no feira, os comerciantes nos deram informações, não reclamaram das fotos e filmagens e responderam as nossas perguntas com simpatia.

Depois do passeio à feira e ao Sr. Ladir fomos tomar uma tigela de açaí, é claro!! O funcionário muito simpático e solícito nos ajudou, nos explicou o processo para extrair a polpa e ainda posou para fotos!

A foto acima é do açaí descascado. A polpa do fruto é mínima!!! Todas as "bolinhas" brancas que vemos acima são sementes. A polpa que consumimos é extraída da parte finíssima de polpa e casca escura que dá a cor roxa ao produto final, ela é riquíssima em antocianina, um poderoso antioxidante natural que ajuda a baixar o colesterol.
O açaí é rico em vitaminas e fibras, mas é muito calórico. Por muitos é considerado um super alimento e está sendo exportado para o mundo todo.

A polpa do açaí saindo da máquina extratora. O açaí entra por cima com um pouqinho de água, a polpa sai por baixo e os caroços pelo outro lado. Para fazer uma polpa mais grossa o açaí é processado com a própria polpa no lugar da água.

As sementes de açaí são muito usadas em bijuterias e artesanato. São tingidas com várias cores e efeitos diferentes. No ver-o-peso você encontra as sementes tratadas para vender.

Nosso amigo enchendo os saquinhos de açaí. Em sacos plásticos transparentes eles vão para a casa dos clientes.

Que tigelão lindo, não é?? E olha que a polpa estava "fina" - estávamos na entressafra e o açaí não era o de melhor qualidade!
O sabor é pronunciado e com gosto terroso, bem diferente da polpa rala e gelada que consumimos no restante do país. É um sabor adquirido, quem não conhece estranha o gosto forte, como nós.

Os paraenses consomem o açaí principalmente como acompanhamento para peixe frito! Não tive a oportunidade de provar desse jeito devido aos horários. Eram 8 da manhã e peixe frito não rolaria...
No estado do Pará o açaí é mais consumido do que feijões!! É o que sacia de forma muito saudável a fome dos ribeirinhos e da população local. A vida por aquelas bandas é dura, mas com peixe fresco, açaí, castanha-do-pará, mandioca e ainda uma variedade de frutas locais quem necessita de carne ou produtos industrializados??
Outra forma comum de consumo do açaí é com farinha de tapioca ou de mandioca e açúcar. É claro que provamos o nosso bem doce e ainda pedimos gelo! Turistas!
Voltamos à lanchonete no dia seguinte para provar açaí outra vez... para nos acostumar com o sabor forte do produto.

Com o açaí podem ser feitos muitos pratos. O sorvete e bombons são os mais encontrados. Não sei, mas não consegui me adaptar ao sorvete de açaí produzido em Belém! Muito cremoso e gelado como gosto, mas o sabor é muito forte! E olha que provei umas 6 vezes para ter certeza...
Também provei um sorvete de açaí aqui no Rio para comparar, de gosto suave me agrada mais, mas ainda não compraria.
Com o açaí podem ser feitos doces como pudins, musses, brigadeiros, tortas, geleias, etc. E pode ainda ser usado em pratos salgados como molhos e chutneys.

A fota cima é do açaí na tigela como é vendido aqui no Rio de Janeiro e em outros estados. Congelado, batido com xarope de guaraná e com granola, banana ou outros ingredientes parece um sorbet. Fui a uma lanchonete para provar e comparar sabores... Não sou muito fã de açaí e só havia tomado uma vez antes de ir a Belém.
O sabor fica bem diluído, mas prefiro assim a la carioca. Fazer o quê?? Tenho que ir mais vezes à Belém para me acostumar com o original!!